
A morte de Orpheu -Emile Levi (1826 -1890)
Sombras mil e fantasmas outros tantos
Que a mim se atiçavam
Se esganiçavam em prantos
Delinquentes e outros seres danados
Atraía-os de todos os lados
Falsos extrovertidos, eu não sei quantos
Buscavam apoio, compreensão
E nisso éramos unidos, na solidão
Mas depois, talvez p’la vergonha
Porque ficar em divida é uma prisão
Castigavam-me a boa acção
Quem salvava eu, afinal?
Quem ia eu buscar ao fundo do oceano
Senão o meu próprio corpo
No corpo de outro humano?
As megeras manhosas, ainda que belas
Na minha cama pernoitavam à luz das velas
Os astutos proxenetas
E outros diabos pernetas
Todos me rodeavam – pudera! –
- Eu alimentava essa grande fera
Definharia eu para conjurar tais abutres?
Estaria preso para emparelhar com presidiários?
Buscava o céu em Gomorra
O paraíso em Sodoma
A face dos anjos na dos ordinários
Ah! Andar no labirinto,
Ainda não definido,
É um deleite distinto
De um ser vendido
Vive-se tudo na pressa
Os prazeres e a história
E no fim da remessa
Nem memória nem glória
Um prazer é coisa extensa
Para se ir saboreando
Sôfregos e com pressa
Torna-se mediano
Um prazer é sentar e ver
É deixar embeber o corpo
É de mim me esquecer
Passeando por ti um pouco.
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