sábado, 16 de junho de 2007

As três irmãs















(Morte de Sardanapal, Delacroix, 1827, Museu do Louvre.)




Havia três irmãs
Três frescas romãs
Hilde,
Brunilde e
Ermegilde,
Todas as três belas e sãs
Lá para os reguengos de Alvide
Três formosas aldeãs
Quem as três vê não se decide

Hilde, uma chama
Se corava incendiava
A primeira que vi
A primeira que amei
Um amor de segredo
Pois tal era meu medo
De realizar o que fantasiava
De hominizar quem divinizei


Ao longe seguia Hilde
Pelo campo, pela vereda
E descobrindo-a adormecida
Todo eu era labareda

Ao longe seguia Hilde
E aquele amor era um perigo
Fazia ela um gesto simples
E tinha-me por terra, rendido

Mas porque o sonho é insuficiente
E quem nele vive bem o sente
Procurei Hilde a ver se desfazia
A minha insensata erotomania

Havia três irmãs
Três frescas romãs
Hilde,
Brunilde e
Ermegilde,
Todas as três belas e sãs
Lá para os reguengos de Alvide
Três Formosas aldeãs
Quem as três vê não se decide

De peito feito como quem se decide
De passo apressado dirigi-me a Alvide
Ia confessar-me seu indefectível fã
Abriu-me a porta a bela Brunilde
Pasmei! Era tão bela quanto a irmã

De perto, muito de perto
Seguia Brunilde
Colava-me ao seu peito como um talismã
Sonhar com Hilde
Era um passatempo humilde
Mas ao fantasiar correcto
(De perto, de muito perto)
Preferi provar A maçã

Brunilde era uma rola esquiva
Alimentava uma larga pretendência
Mentia e era manipulativa
Cultivava-me a demência

Negava-se a ser só de um indivíduo
Queria, dizia, a liberdade
Mas que liberdade era aquela
Que me mantinha cativo?
Como repartir a felicidade?

Faminto de seu corpo e
De sua traição alimentado
Fechei os olhos à facada
Para ficar ao seu lado
Mas aquele, estava visto,
Mais que comprovado,
Era um mau compromisso,
Um negocio furado
Eu dava e ela recebia,
Jamais me retribuía,
Encantada!

Humilhado,
Tratado como um capacho
A caminho me pus de Alvide
Estava bem bebido
Bêbedo como um cacho,
Divertido comigo,
Borracho
Abriu-me a porta Ermegilde



Havia três irmãs
Três frescas romãs
Hilde,
Brunilde e
Ermegilde,
Todas as três belas e sãs
Lá para os reguengos de Alvide



Além de bela, Ermegilde era doce
De uma bondade compreensiva
Chorei no seu colo, a dor dissipou-se
E ela, que não era dissoluta, furtiva,
Pelo raiar da manhã
Havia tomado o lugar da irmã

À fantasia intangivel de Hilde
Substituíra eu o tacto real de Brunilde
Mas cansado de provar A maçã
Ao raiar da manhã
Eu amava Ermegilde

Juntámo-nos e celebrámos a boda
Dançámos, fizemos grande festa,
Cansado de ma ou nenhuma alcova
Servia-me quem tinha dois dedos de testa

Assim me casei
Não quis só o sonho ou só o real
Quis o real total sonhado
Há noites, contudo, confesso,
Em que dificilmente adormeço
Em que por uma ideia fixa sou perturbado
A ideia de que a Ermegilde
Falta um pouco de Hilde e de Brunilde

Então, para esses dias distantes
Do passado, me deixo levar
E por breves, muito breves,
Brevissimos instantes
Revivo o extase dos amantes
Ainda por domar

Havia três irmãs
Três frescas romãs
Hilde,
Brunilde e
Ermegilde,
Todas as três belas e sãs
Lá para os reguengos de Alvide
Três Formosas aldeãs
Quem as três vê não se decide

Sem comentários: