segunda-feira, 25 de junho de 2007

Poemas orgânicos: Alergias
















(Monumento à obra de Gogol, "O nariz")



Que vida tem um homem que não respira?
Fecha-se em casa, anda rezingão
Sufoca, agita-se, transpira
Tentando fugir ao caixão

Que vida tem um homem que não respira
Prestes a implodir, no limite
Anda com a vida na mira
Presa da sinusite

Que vida tem um homem que sufoca,
Que sufoca e que sufoca, sem alegria
Esconde-se na sua escura e húmida toca
Obstipado pela alergia

Que vida tem um homem que funga,
Que funga e que funga, assaz desesperado
Impossibilitado de inalar a vida
Pelo seu septo desviado

Que vida tem um homem que assoa,
Que assoa e que assoa, estando sempre só
Que dizer desse cidadão de proa
Que se atordoa até com o pó

Que vida tem um homem que não dorme,
Que não dorme e não dorme, que vive na quimera
Nunca está bem a dormir ou bem acordado
Vive em fila de espera

Que vida tem um homem que espirra,
Que espirra e que espirra, de olhos raiados
Esse homem que com tudo embirra
E que todos deixa chateados

Que vida tem um homem que escarra,
Que escarra e que escarra, expelindo o veneno
A sua doença é uma amarra
O seu coração faz-se pequeno

Se na rua virem este homem passar
Sejam compreensivos para com a sua ira
Dêem-lhe espaço, o seu devido lugar
Lembrem-se, ele afinal não respira

Se na rua virem este homem passar
Sejam compreensivos, não façam troça
Deixem-no primeiro altercar
E depois, quando se cansar
Ajudem-no a sair da fossa.

1 comentário:

Cristal disse...

Olá amor,

Venho dar-te boa notícia:

o blog: ceandocomigo.blogspot.com tem uma entrada para este reino de poesia que é o teu mundo de realidade cantada.

um toque doce no teu coração, nariz e pulmões

Jenipapim