
(Monumento à obra de Gogol, "O nariz")
Que vida tem um homem que não respira?
Fecha-se em casa, anda rezingão
Sufoca, agita-se, transpira
Tentando fugir ao caixão
Que vida tem um homem que não respira
Prestes a implodir, no limite
Anda com a vida na mira
Presa da sinusite
Que vida tem um homem que sufoca,
Que sufoca e que sufoca, sem alegria
Esconde-se na sua escura e húmida toca
Obstipado pela alergia
Que vida tem um homem que funga,
Que funga e que funga, assaz desesperado
Impossibilitado de inalar a vida
Pelo seu septo desviado
Que vida tem um homem que assoa,
Que assoa e que assoa, estando sempre só
Que dizer desse cidadão de proa
Que se atordoa até com o pó
Que vida tem um homem que não dorme,
Que não dorme e não dorme, que vive na quimera
Nunca está bem a dormir ou bem acordado
Vive em fila de espera
Que vida tem um homem que espirra,
Que espirra e que espirra, de olhos raiados
Esse homem que com tudo embirra
E que todos deixa chateados
Que vida tem um homem que escarra,
Que escarra e que escarra, expelindo o veneno
A sua doença é uma amarra
O seu coração faz-se pequeno
Se na rua virem este homem passar
Sejam compreensivos para com a sua ira
Dêem-lhe espaço, o seu devido lugar
Lembrem-se, ele afinal não respira
Se na rua virem este homem passar
Sejam compreensivos, não façam troça
Deixem-no primeiro altercar
E depois, quando se cansar
Ajudem-no a sair da fossa.
1 comentário:
Olá amor,
Venho dar-te boa notícia:
o blog: ceandocomigo.blogspot.com tem uma entrada para este reino de poesia que é o teu mundo de realidade cantada.
um toque doce no teu coração, nariz e pulmões
Jenipapim
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