sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Paciência

Que paciência tens tu para me escutar a mim
Para me ouvir o queixume e o lamuriar
Juro que se fosse eu que me ouvisse assim
Não teria paciência para me escutar

Que paciência tens tu para me escutar a mim
Para me ouvir a tristeza e o refilar
Juro que se fosse eu que me ouvisse assim
Já me tinha mandado passear

Escutas-me os desatinos, a alma às avessas
E todas essas coisas confessas
Aplacas com os teus ouvidos cordatos
As dores, os achaques, os terrores nocturnos
Os cheliques, os tiques, os pânicos profundos
Mitigas com os teus ouvidos sensatos

Ó ouvidos abençoados que tu tens
Ó boca perfeita para nunca pronunciar o demais
Queria ouvir-me como só tu o sabes fazer
Calado para os meus próprios ais.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Os homens

Os homens de toga, os homens de armadura
Os homens de fato, gravata e sinecura
Certificam-se de que se afoga
Toda e qualquer prova
De que para os outros homens a vida é amargura

Os homens de toga, os homens de armadura
Os homens de fato, gravata e sinecura
São a voz que advoga
O fim da derrota
São a voz que outorga o persistir da agrura

Mas para os outros homens, os homens da amargura
Os indigentes estropiados de cultura
Resta-lhes desejar
Possam os seus filhos, um dia, se tornar
Homens de toga, homens de armadura
Homens de fato, gravata e sinecura.