
(Persephone - Thomas Hart Benton)
Amou-me um dia uma rapariga
Com fome, com sofreguidão
Ria, chorava, andava perdida
Idolatrava-me, queria perdão
Devotou-se-me um dia uma rapariga
E seu amor era total sacrifício
Que se lhe pedisse, a essa amiga,
Atirava-se ao precipício
Não sei que fizera
Para merecer tal sectarismo
Seria magia negra
Que a dispunha ao abismo?
Seria partida –
Paixão não era –
Esse ponto cúmulo do histerismo?
Indaguei e acabei por descobrir
Não tinha alma e partilhava da minha
Mas não podia eu, uma alma, dividir
Era já pequenina, a alma que eu tinha
Compadeci-me dela, da desalmada
Quis achar alma que lhe servisse
Procurei numa loja alada
Uma que também me divertisse
Impingi-lhe uma alma novinha em folha
Uma de rapace e moderna fêmea
Uma fatiota de minha escolha
Para dela fazer minha alma gémea
Vesti-a, levei-a a sair, a candura
Mas que mal se sentiu nesse fato
Ficava-lhe apertada a cintura
Demasiado largo, o sapato
Fui descobri-la desnuda, nuínha
Chorando à beira de um regato
Despira a alma que não lhe convinha
Ficara bela como o pecado.
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