Se as palavras são para dar e vender
se as palavras se vendem
eis a minha oferenda a vós
porque não tenho escolha
Dar uma palavra a quem não a merece,
ou dá-la a quem não a pediu
é como dar um carinho obsoleto
ou que se pressente ameaçador
Por isso as palavras começaram a ser vendidas
para as reconhecerem
para não serem pérolas a porcos
Quem quiser um kilo
vendem-no bem pesado
ou um cabaz de palavras
para oferecer pelo natal
Onde há palavras há vendedores de palavras,
especuladores de palavras,
máquinas de palavras,
licensas para palavrear,
indústrias e fiscais da palavra
O que faz de mim,
no meio disto tudo,
um pirata da palavra:
não tenho licensa
e só digo palavrões.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
As minas
Tudo o que gritei para os ouvidos dos moucos
foi tudo o que me revelou a minha cegueira
Tudo o que comi com fome voraz
foi tudo o que se fez sedento de mim
De mim e de outros que não logro em encontrar,
que jazem sepultados sob aço fundido,
levados por ribeiras subterrâneas de palavras
e enchurradas de mal entendidos
Minas de carvão que são minas de tempo mal aproveitado
e onde a tísica se apanha de respirar promessas
e minas de diamantes que gelam e petrificam
o portador da saudade perene
Eu quis cavar com uma picareta
uma saída airosa,
mas perdi demasiado tempo
a enfeitar o túnel.
foi tudo o que me revelou a minha cegueira
Tudo o que comi com fome voraz
foi tudo o que se fez sedento de mim
De mim e de outros que não logro em encontrar,
que jazem sepultados sob aço fundido,
levados por ribeiras subterrâneas de palavras
e enchurradas de mal entendidos
Minas de carvão que são minas de tempo mal aproveitado
e onde a tísica se apanha de respirar promessas
e minas de diamantes que gelam e petrificam
o portador da saudade perene
Eu quis cavar com uma picareta
uma saída airosa,
mas perdi demasiado tempo
a enfeitar o túnel.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
A boca dos livros
A pilha de livros dá-me aflição,
as extremidades amarelecidas,
páginas que carpem no soalho
lágrimas de heroínas ludibriadas
A enciclopédia sabichona,
e o Decameron hedonista
entram em disputas éticas
numa retórica bovariana
O áquário verte água
sobre a Origem das Espécies
E à Moby Dik furiosa
faz-lhe espécie O Idiota
O nariz sempre no ar, da Bíblia
proclamando-se, arrogante, o livro único
melindra-se com o porte do volumoso
Arquipélago de Gulag
Enquanto a Karenina em três volumes
se inclina docemente
para se encostar ao ombro forte
das Histórias Inquietas
Os Contos Tradicionais
arranham com garras de lobo
a História Universal em 20 fascículos
e esta, que não é um capuchinho vermelho,
que até veio em versão de capa dura,
engendra o Admirável Mundo Novo
procurando resgatar
O povo do Abismo.
as extremidades amarelecidas,
páginas que carpem no soalho
lágrimas de heroínas ludibriadas
A enciclopédia sabichona,
e o Decameron hedonista
entram em disputas éticas
numa retórica bovariana
O áquário verte água
sobre a Origem das Espécies
E à Moby Dik furiosa
faz-lhe espécie O Idiota
O nariz sempre no ar, da Bíblia
proclamando-se, arrogante, o livro único
melindra-se com o porte do volumoso
Arquipélago de Gulag
Enquanto a Karenina em três volumes
se inclina docemente
para se encostar ao ombro forte
das Histórias Inquietas
Os Contos Tradicionais
arranham com garras de lobo
a História Universal em 20 fascículos
e esta, que não é um capuchinho vermelho,
que até veio em versão de capa dura,
engendra o Admirável Mundo Novo
procurando resgatar
O povo do Abismo.
Subscrever:
Mensagens (Atom)