domingo, 18 de maio de 2008

A arca no sotão

Subi ao sotão e
encontrei uma arca
cuja chave não se queria evidenciar
arca maldita! Rais-ta-parta
dou-lhe um pontapé
que a põe a chiar

Abre, hiante, a grande boca
De couro e tecido, escancarada
e de lá de dentro fita-me o tesouro
uma opulente herança de nada

Máscaras e figurinos,
velharias, monos vários
a sufocar de asma naquele pó
jaquetas de cowboys
e botas de corsários
uma rabeca p'ró só-li-dó

Experimento uma máscara, a medo
que os ácaros me façam presa
e logo surge a estalo de dedo
um vero carnaval de veneza
com cortesãs da realeza

Dançam nos seus espartilhos tira-folêgo
de peitos a soçobrar do decote
e eu sou no meio daquilo tudo, um franganote
que não se contem de surpresa

Fica-me bem esta nova máscara
pois que a vejo a um espelho rachado
estou a sonhar e siderado
só quero acordar acompanhado

Mas àquela festa
já se faziam convidar outros seres
que eu não houvera convocado
esqueletos, fantasmas e outros desmancha-prazeres
bailavam pelo sotão desarrumado

Corri a selar a arca
que não sendo a de Pandora
a breve festa de toda aquela realeza
custou-me um bom trabalho de limpeza
coisa para mais de uma hora.