domingo, 10 de junho de 2007

Há mais no meu país do que o vespertino diz




















Há mais no meu país
Do que o vespertino diz
Há fome, mentira, peculato
Mas também muito herói intemerato
Que se atreve a viver feliz

Há mais no meu país
Do que o vespertino diz
Há pobreza, prepotência, indigência
Mas também quem não abdique da inteligência
Para viver a vida que sempre quis

Fraude, droga, tráfico de influências
Roubo por esticão e outras delinquências
Canta o escatológico vespertino
É melhor, pelo que nos diz, abandonar este país
Por cá, difunde, não há destino

Mas há o que não vem nesse cinzento diário
Nas secções política, económica ou social
Que não o prevê o horóscopo ou lamenta o obituário
Que não é burla astuta ou conto do vigário
Que não vem na primeira página desse jornal















Além dos processos parados, das filas de espera, dos autarcas,
Para lá dos sacos azuis proliferando nas comarcas,
Das o.p.a.’s, das o.t.a.’s, das quotas na assembleia,
Das gaffes, fait-divers, risotas – panaceia
Além de tudo isso, e do mais que nos enguiça o juízo
Há maneira de escapar há teia que nos enleia
Há a inata veia de seguirmos a nossa ideia

Por isso cantai, ó português
Como outro povo jamais o fez
Pois possuis o ceptro do livre arbítrio
E a coroa divina da consciência
Vinde da cidade, do monte, do vale e do rio
Responde com felicidade, dançando no estio
Cala com a tua voz essa voz sem ciência.

1 comentário:

Cristal disse...

Com este poema fui tocada na parte de mim que escolhe, que acredita e que, por isso, faz acontecer, depois de bem observar as vantagens de cada lugar.