Quando as comadres se juntam a um canto
E soltam as línguas com um quilómetro
Do nada urdem, num instante, um manto
Bordado de escândalo e de assombro
Entretidas esmiúçam as vidas
Condimentando-as com muito sal
E ficam deveras divertidas
Apontando a raiz do mal
Ele é aquele vizinho que trai a mulher
E aquela mulher que trai o vizinho
E aquele, um chupista! Anda de choffeur!
E aqueloutro, um incapaz, o pobrezinho!
Quando as comadres se juntam a um canto
A sua finalidade é bem sabida
Cheias de asco, apontam aos outros o tanto
Que falta à sua própria vida
É uma felicidade quando uma vê a outra
Apressam-se a pôr a conversa em dia
E sentem-se mais limpas, com nova roupa
Maldizendo o cunhado, o genro, a tia
Mas se não há nada para falar
Ai! Que não chegue esse terrível segundo!
É preciso, então, inventar
Calúnia que as desvie do seu risível mundo
“Olha aquela! De mini-saia! Uma porca!
Olha aquele! De carro novo! Um canastrão!
Aquele miúdo, pobre coitado, um idiota!
Os pais não lhe deram educação?”
Quando as comadres se juntam a um canto
As cabeças rolam por aí além
Da cave esquerda ao terceiro direito
Não escapo eu, não escapa ninguém.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
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