quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Os neo-helenos

O que nos oferecem estes tempos
Que nos convençam a ficar?
O que neles me persuade?
A ideia de liberdade?
A sua atmosfera de lupanar?
Mas se tudo isso é volátil e eu não lhe posso tocar!

O que me oferecem estes tempos, digam-me,
Que me persuade a não partir?
Dos prazeres, das alegrias colho os restos
As flores, se as pego, têm espinhos funestos,
Sangram a borbotos minhas mãos sobre os cardos
Os regatos, secos se os alcançamos,
Estagnados, cheios de moscardos,
Desonestos, desumanos
Brilham apenas na miragem,
Na vontade de os alcançarmos

As florestas são de vidro
As chuvas, de pedra da Manchúria
As gentes, estátuas de Policleto
Incentivando-nos à penúria
Serei turista convencido
Pelo colorido da brochura,
Pela beleza estática e plana do panfleto?
Se sim, abdico agora mesmo da procura
É ao olvídio que eu me remeto

Mas digam-me, o que me oferecem estes tempos?
O que me dão eles que me sussurre:
“Não te vás ainda.”?
O que me dão que perdure,
Que me alimente e que me cure?
As obras piramidais,
Os constructos monumentais,
As mil maneiras de saciar a fome que não finda?
Dão-me os tempos o que apregoam
Os convincentes comerciais:
Uma lata de feijão pela mão de uma modelo linda?

Quem vive o que se vive no refrão das canções,
Os ais, suspiros, todas as emoções?
Quem o tem em demasia que mo faça ter de somenos?
E são eficazes esses venenos?
Quem experimentou já essas poções?
Que intervale as suas pulsões!
Que desça ao Inferno dos terrenos!
Para me encaminhar ao Olimpo dos neo-helenos!

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