sábado, 25 de agosto de 2007

A falsa antítese: moral e prazer

Quem corta uma mão para que
Não estorve a acção da outra?
Quem fura de propósito uma vista
Para ver melhor da que sobra?
Quem persegue essa insana obra?
Quem se abstém do prazer, para ser virtuoso
E sendo virtuoso se esquece de ser feliz?
Quem ignora o que o seu corpo diz
E se obceca a controlá-lo?
Quem abertamente o despreza
Procurando amá-lo?
Quem é o infeliz
Que se compraz em castrá-lo?
Quem é que, entre vós,
De vontade própria abafa a sua voz?
Quem é que se tem por meretriz
Quando por um segundo se descuida
Pensando em jogos pueris?

Se és vós, deixai-me dar-vos um conselho:
Assim jamais chegarás a velho!
Ética não é antítese de prazer carnal
O mais completo eudomonismo
Encerra em si mesmo um hedonismo
Mas vós preferis
Torcer, ao prazer, o nariz
Ver em todo o lado... o Mal.

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