quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O adúltero





Weston







Eu era um adúltero em mente
E, oh! Que alegria!
Sonhar com o instante
Que ninguém me permitia
Eu era um adúltero em mente
E só me ressentia
Não ser um adúltero completamente

Nada isto carregava de nefando pecado
Só coisas belas me atrevia a sonhar
Um joelho despido, um umbigo destapado
Um vestido justo, decotado
Rasgado pelo meu olhar

Eu era um adúltero em mente
E, oh! Que tristeza!
Viver entre os pudicos!
Um dia inclinei-me à minha fraqueza
E revoltaram-se, logo, em sua defesa
Contra mim, os critérios públicos

Maridos irados e puras donzelas
Bois indomesticáveis e ágeis gazelas
O seu inimigo figadal
Encontraram em mim que ousei
Passar do sonho ao real
Do volátil ao carnal
Eu, que do onírico e intangível
Contra tudo e contra todos,
Um dia, me emancipei

Ante toda esta gritaria e comoção
Temendo a sova e a humilhação
Voltei a fingir-me tímido aparente
Regressei ao resguardo da imaginação
Sou hoje, por força e por imposição
Um adúltero que somente
Prevarica na sua mente
Um adúltero que se ressente da doença da ilusão.

Sem comentários: