quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A grande guerra

O problema da guerra
Chegou um dia a todos nós
E da alegria discreta
Passámos à alegria completa
E da infelicidade média
À tristeza atroz

Chegaram os petardos
Libertando-nos dos fardos
Zumbiram, caíram
Destruindo o trabalho
E em uníssono todos rejubilámos:
Não havia mais servidão!

Os petardos
Como moscardos
Zumbiram, caíram, então,
Destruindo os vizinhos
E nós, embora atordoados
Embora um pouco mais sozinhos
Juntos celebrámos:
Não havia mais competição!

Mas os obuses
Das ofuscantes luzes
Zumbiram, caíram,
Estoiraram, levando-nos as pernas
E sem muros nem telhados,
Nem portas nem janelas
Regressados que estávamos
Às frias cavernas
Ingénuos, ainda pensámos:
"Graças a deus! Vivo!"

Foi quando o céu inclemente se rasgou
E de lá, de repente, se precipitou
O arsenal definitivo:
Levou-nos o que nos sobrava, os braços
"Meu deus! Como darei agora abraços"
A quem me libertou de ser cativo?

"A minha alma é uma amálgama de estilhaços
Estou feito aos pedaços
Jazo mas sobrevivo"

Entre quem faz a guerra
Há ponto em comum, assaz
Que guerreando a terra
É maneira de se chegar à paz

A guerra alimenta,
Enriquece e prospera
Tanto quanto atormenta,
Apodrece e degenera

Mas quem nega essa fera
Nega apenas que dentro de si
Se já não chora e já não ri
Estoirou em grande a grande guerra.

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