quarta-feira, 25 de julho de 2007

Promontório do Presente

Do promontório do presente
Contemplamos o passado
O caminho aberto e o cerrado
O mar encrespado,
A terra, até onde a vista alcança
A escassez e a bonança
Pesados lado a lado
Para onde pende essa balança?

Do promontório do presente –
Todos, um dia, o teremos que subir
Chegados a loucos,
Miopes e moucos,
Os que a si mesmo fingem
Será, então, altura
De dessa alta envergadura
Testarmos a nossa vertigem

Trémulos de mente e de pernas
Há os que cedo se despenham
E que num voo picado se empenham
A lutar com as vagas nada amenas
Sem sereias serenas
Que lhes mitiguem as penas
Tritões, apenas, que os arpeiam

Outros, pouco afoitos,
Não terão sequer coragem de subir
Serão empurrados por esse cabo
A confrontar o passado – os doidos
Na berma, com o vento a bulir
E o vento grita a sua verdade maldita
Terrível de ouvir

Do promontório do presente
Porque até o presente é ilusório
O justificativo escapatório
É preciso ter presente
Quando sentimos que é premente
Para arrumar o desarrumado
Olhar do presente
Para o distante passado

Do promontório do presente
Precisaremos de óculo, de binóculo,
Para sondar o horizonte obscuro?
E será alto o suficiente o babélico observatório
Para observarmos o Ontem pouco abonatório
Sustentando-nos apenas no presente inseguro?

Quem deseja saber escala a sua escarpa
Galga-o a punho, sem bússola ou mapa
Deixa a máscara no primeiro planalto,
O figurino, no segundo
Dá sem fôlego a última braçada
Ergue-se farto de comer o pó e o nada
E do píncaro contempla o mundo.

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