De crocodilo, inúteis, ofendem os olhos
Mestres hábeis da mascarada
Garras inúteis que atormentam os sonhos
Luvas inúteis constroem castelos
Fortalezas sem fim, inúteis, portanto
Driblam projectos abjectos, secretos
Fúteis, essas membros, urdem segredos
Fazendo do nada outro tanto
Apêndices inúteis de inúteis vozes
Murmurantes, sussurrantes, confidentes
Comprovam: São mais as vozes que as nozes
Batendo com a língua nos dentes
Próteses inúteis estendidas aos céus, rogando
Juntas, tacteando sem tacto, rezando
Ou sem remorso, acenando adeus
Apertando outras próteses, cumprimentando
Esticando o indicador, traindo
Traindo implacavelmente os seus

Dedos compridos, finos
Com unhas cortantes
Que se cravam, libertinos,
Nas costas dos amantes
Dedos negros, suspeitos
Vorazes e delicados
Que se espetam, inquietos
No coração dos amados
Palmas com a linha da vida: longa
A linha do coração: curta
A linha da razão: ausente
E a linha da memória: diminuta
Palmas batendo palmas
À estatura de palmo e meio
Vendo a sombra agigantar-se
Sob a luz dum candeeiro
Palmas, uma salva de palmas
Para essa alma de carroceiro
Vendo a estatura expandir-se
A troco d'algum dinheiro
Nessa dança emulando Circe
Ó mestre títereiro
Suam as mãos hipócritas
Atrás das costas, uma delas, numa figa, aperta-se
Jurando, outra, sobre o peito, pela alma dos finados
Uma faz, diligente, a continência
E a outra nunca se põe na consciência
Quando dispara sobre os condenados
Essas mãos que recebem, que pedem
Que exigem mais do que merecem
Que se vendem imundas nos mercados
Fazem do homem, homúnculo
E dos asnos, doutorados
Dos espertos, o novo mundo
E dos inteligentes, alienados.
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