Um eunuco da mente
Irado e descontente
Que à janela de quando em quando aparece
Para dizer ao mundo como se sente
Esse forçado eunuco da mente
Anseia por fecundar um pensamento diferente
No estéril óvulo da imaginação dolente
Dos outros eunucos da mente, voluntários
Vive, no entanto, como os rosários
No pescoço das beatas pendente
Como o mais pudendo dos emissários
Vive contrafeito
Pois não lhe assiste esse direito
De ser livre e libertino
Para o ventre e para o peito
Procriando as ideias dum novo destino
Chora o eunuco da mente,
Na sua torre de marfim, implacável
Não pode descer, não o consente
O sacro, o puro, o venerável

Do seu marmóreo túmulo vertical
Avista horizontes que não pode comunicar
Está forçado esse eunuco, num pedestal
Preferia ser homem e poder pecar
O eunuco da mente está irado:
“Tirem-me da mente esse cinto da castidade!”
Sobra a semente do seu pecado não consumado
Para fecundar nenhuma verdade
Um dia descerá o eunuco da mente
Um dia, promete, um dia
Dessa torre de marfim, pétrea, fria
E expulsará o celibato num repente
Para fecundar a mãe verdade, um dia
Estuprando a sua essência pia.
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