segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A boca dos livros

A pilha de livros dá-me aflição,
as extremidades amarelecidas,
páginas que carpem no soalho
lágrimas de heroínas ludibriadas

A enciclopédia sabichona,
e o Decameron hedonista
entram em disputas éticas
numa retórica bovariana

O áquário verte água
sobre a Origem das Espécies
E à Moby Dik furiosa
faz-lhe espécie O Idiota

O nariz sempre no ar, da Bíblia
proclamando-se, arrogante, o livro único
melindra-se com o porte do volumoso
Arquipélago de Gulag

Enquanto a Karenina em três volumes
se inclina docemente
para se encostar ao ombro forte
das Histórias Inquietas

Os Contos Tradicionais
arranham com garras de lobo
a História Universal em 20 fascículos
e esta, que não é um capuchinho vermelho,
que até veio em versão de capa dura,
engendra o Admirável Mundo Novo
procurando resgatar
O povo do Abismo.

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